Por que (ou como) as ICMs buscam a igualdade racial e social?

 negro e branco de mãos dadas

 

Por que (ou como) as ICMs buscam a igualdade racial e social?

“As Igrejas da Comunidade Metropolitana são um capítulo na história do cristianismo”. Esta frase do preâmbulo da Declaração de fé das Igrejas da Comunidade Metropolitana é perfeita para entender a razão das causas da ICM soarem tão estranhas nestes tempos de cristianismo capitalista, no qual a fé é como se fosse uma mercadoria e a igreja um grande supermercado onde escolhemos nosso produto e pagamos com nosso dinheiro, e Deus se torna obrigado a nos enviar em um determinado prazo sob pena de deixarmos de comprar com Ele.

O Cristianismo como instituição e sistema de crenças falhou muito com vários povos em todo o mundo – é necessário pontuar o mal que fez aos indígenas, pretos, ciganos, cristãos de outras matrizes e pessoas de outras religiões….

O Evangelho que acreditamos não é este, embora nem todos acreditemos da mesma forma nas mesmas coisas, cremos em um Deus que se manifesta apesar de nossas visões e tropeços. O Cristianismo como instituição e sistema de crenças falhou muito com vários povos em todo o mundo – é necessário pontuar o mal que fez aos indígenas, pretos, ciganos, cristãos de outras matrizes e pessoas de outras religiões… Pode parecer cruel demais, e é! Precisamos falar do quanto brancos oprimiram e ainda oprimem os povos não-brancos, precisamos falar de como a fé cega no Deus da bíblia serviu de escada para práticas como sequestro, genocídio (assassinato em massa de um povo), exploração do trabalho escravo, estupro, epistemicídio (morte do conhecimento produzido por determinado povo) e tantas outras que talvez nem tenhamos conhecimento! Admitir isso é o primeiro passo para combatermos os discursos em que se baseiam estas práticas para evitá-las no futuro e também para produzir um discurso que não tire a dignidade de quaisquer povos da Terra.

Quando o Cristianismo abraça essas práticas cruéis, também altera a condição material da vida das pessoas. Em um mundo onde ser digno do status de humanidade, bonito, inteligente, e tantos outros atributos positivos é sinônimo de ser branco, o contrário fica valendo para quem não é, e isso faz com que os demais povos fiquem em franca desvantagem em relação à branquitude. Quando falamos de branquitude não estamos atacando pessoalmente ninguém, falamos de um sistema que perpetua a opressão e mantém os brancos no topo da pirâmide.

O Papel da Igrejas da Comunidade Metropolitana e de nosso chamado profético não é o de justificar a opressão ou as desigualdades. Em hipótese alguma devemos utilizar a Bíblia ou qualquer dispositivo de nossa fé para conformar, silenciar ou sufocar as dores de quem quer que seja. Nosso papel é denunciar, ecoar, gritar mais alto que todos os hipócritas (Obrigado, Rev. Troy!)! A começar de nossas práticas históricas e contemporâneas como igreja, devemos questionar o nosso lugar comum e confortável. É preciso observar a paisagem e questionar se tudo o que está ali é realmente natural. Jesus pode nos ajudar nisso, a Bíblia também, se nos libertarmos da visão de que ela é maior que o amor de Deus. A Bíblia não é maior do que o Amor de Deus e nem maior do que a dignidade humana. Proponho, então, este ponto de partida: 1) identificação de nossas mazelas como igreja; 2) foco na denúncia profética; e 3) a dignidade humana como alvo a ser alcançado sempre e apesar de tudo.

Deste modo conseguiremos com que a prática de nossa fé sirva a um Deus que se manifesta na comunidade e que se revela a nós com o rosto do outro e com os nossos braços.


 
Jeferson RodriguesSOBRE ESTE AUTOR DA ICM: Jeferson Rodrigues  – Professor, Pós-graduado em Administração Pública, Integrante do Movimento Negro Evangélico, Diretor do PAD e Diácono da ICM Rio de Janeiro. Serve na ICM desde 2006.