Inter-religiosidade e Diálogos Interfé nas Igrejas da Comunidade Metropolitana

símbolos inter-religiosidade

 

Inter-religiosidade e Diálogos Interfé nas Igrejas da Comunidade Metropolitana

Declaração de Fé das ICM

As pessoas chegam na ICM vindas de uma variedade de experiências religiosas e espirituais, muitas vezes acostumadas a discursos religiosos nem sempre amorosos e fraternos, promovidos por denominações exclusivistas e fundamentalistas.  Essas experiências marcam, profundamente, nossa relação conosco mesmos, com Deus e com o próximo. 

Inter-religiosidade e Diálogos Inter Fé

Diálogo inter-religioso é a ideia de que as diferentes religiões do mundo devem evitar a busca pela supremacia mundial e, ao invés disso, devem dialogar e se respeitar mutuamente, procurando evitar as guerras com motivação religiosa. Desta forma, o diálogo inter-religioso acontece muitas vezes entre líderes representantes das organizações religiosas, na sua grande maioria homens e, quase sempre, a partir do Cristianismo. A Teóloga Feminista Kwok Pui-Lan, propõe o conceito “interfé”, como uma oportunidade de diálogo entre as pessoas com suas crenças e não entre religiões em si. 

Na ICM, “nem todas as pessoas acreditam exatamente no mesmo. E mesmo em meio à diversidade, estamos construindo comunidade, enraizada no amor radicalmente inclusivo de Deus para todas as pessoas.”  As frases parecem simples, mas, ainda assim, tocam a essência da ICM. Nós somos pessoas com diferentes tipos de fé. Não se espera que todas as pessoas concordem em tudo. Como Igreja e como comunidade, não esperamos uniformidade. Em vez disso, nós celebramos nossa diversidade e trabalhamos pela unidade, juntamente com os desafios e tensões que isso traz.

Credos, confissões de fé e dogmas têm sido tradicionalmente usado como “cercas” e proteção contra todos os que são considerados diferentes. São construídos como muros contra os estrangeiros, contra o que é tido como arriscado e novo.

As trê posturas diante das inter-religiosidades e dos diálogos interfé: o exclusivismo, o inclusivismo e o pluralismo.

  1. O Exclusivismo – “Só a minha religião ou igreja é verdadeira”. É arrogante e injusto, causou e causa guerras sangrentas, peca por fatal simplismo e, em verdade, carece de respaldo bíblico. Parte do princípio que a religião cristã se expressa numa Igreja que se entende como a única Igreja verdadeira, o único caminho possível. Realça a confissão da própria fé ou a afirmação da posição religiosa pessoal, exclui a possibilidade de qualquer outra religião que compartilhe a verdade e o acesso à transcendência de forma igual ou de comparável valor. As outras tradições são vistas como diversos graus de erro e de confusão. Por isso, o exclusivismo aparece cada vez mais como fenômeno anacrônico e ultrapassado.
  2. O Inclusivismo – tem longos antecedentes. Não abre mão da unicidade de Jesus Cristo. Mas, vê o Cristo, preexistente e exaltado “à direita de Deus Pai”, agindo também fora da cristandade, ainda que de modo oculto. Entende Igreja ou tradição religiosa como já contendo, implícita, se não explicitamente, o essencial das verdades e dos valores positivos de outras tradições. Desrespeita a alteridade das outras religiões quando está propenso a descobrir no outro somente o familiar, o próprio, não o diferente. Torna-se, assim, obstáculo para o diálogo. O inclusivismo pode afirmar, por um lado, que todas as religiões principais dizem, afinal de contas, a mesma coisa e que, assim, cada uma possui em si o cerne da doutrina, moral “o amor” e culto verdadeiros, apenas variando o estilo, a linguagem, a coloração cultural — seria um caso de “tema e variações”, aproximando-se assim do pluralismo
  3. O Pluralismo –  substitui o cristocentrismo pelo teocentrismo. A fé em Deus seria seu elo de união entre todas as religiões. Ainda que articulem esta fé em linguagem diferente, seriam expressões do mesmo fenômeno. Assim como o amor tem manifestações multifacetadas, assim também o teria a fé. As religiões, desta forma, passam a ser complementares. Há abordagens pluralistas redutivistas, que tentam explicar a pluralidade por meio só de fatores culturais e não vê a necessidade de aceitar um conteúdo transcendente. A variedade seria, ela mesma, uma mera coordenada do inevitável arco-íris das manifestações condicionadas da cultura humana, produzidas por outras forças (fatores sociais, econômicos, emocionais, etc). O pluralismo também pode ser místico como na experiência de Thomas Merton e Raimon Panikkar, na proposta de uma íntima relação com Deus. Ele pode, filosoficamente, deixar intacto o mistério da panóplia das religiões e procurar apenas entender, com mais profundeza e mais amplitude, o caráter próprio de cada uma. Nesse caso, um pluralismo filosófico poderia se aproximar do inclusivismo teológico.

Desafios da Unidade na Diversidade

Um relacionamento exige algumas coisas em comum, mas não é estável se depender inteiramente de ter coisas em comum. Um relacionamento maduro se desenvolve quando pessoas que são legitimamente diferentes ainda podem vir à mesa de boa fé e respeito mútuo. O verdadeiro respeito significa aceitar a pessoa como um todo, incluindo todos os atributos que não se encaixam perfeitamente nos seus. Essas diferenças podem eventualmente ser reconciliadas, mas ainda precisamos aprender a manter o relacionamento até que isso aconteça.  

Citações de Nelson Mandela

Construímos vínculos de nossa comunidade, sabendo que nossas profissões individuais de fé podem ser diferentes, mais ou menos detalhadas, mais profundas, mais amplas, desafiadoras, por vezes, assustadoras, novas, surpreendentes e às vezes formuladas de um modo muito tradicional. No entanto, reafirmando que existem mais coisas que nos unem do que as que nos separam, nos mantemos sempre no amor de Deus. Ou, como formulado na Reforma: “Nas coisas essenciais, unidade, nas não-essenciais, liberdade; em todas as coisas, o amor” 

Citações de Miquéias e Salmos

Dentro da ICM, nós compartilhamos uma forte convicção de que, em se tratando de fé, ainda não foi dito tudo. É sempre possível ir mais fundo, para alcançar uma melhor compreensão de nossas crenças. Estamos abertos ao diálogo franco e respeitoso entre diferentes perspectivas. Embora reconheçamos que a ICM é um capítulo na história cristã, partilhamos uma profunda crença de que nossa compreensão de Deus, em nossas histórias está sempre se desenvolvendo, é um diálogo em andamento. Reconhecemos as muitas e variadas viagens individuais, congregacionais e expressões de espiritualidades que formam a ICM.  Como uma denominação não-confessional, os membros não são obrigados a aderir a um catecismo fechado, antes, preferimos incentivar o diálogo aberto e respeitoso em torno dos pontos mais delicados da tradição cristã. Por isso, Robert Goss em seu livro Queering Christ diz que a Fraternidade Universal das Igrejas da Comunidade Metropolitana (FUICM) “é pós-denominacional”, no sentido que ela começa com um princípio não de aderência doutrinal, mas de diversidade doutrinal, permitindo uma ampla gama de interpretações ecumênicas da doutrina e uma fusão de uma variedade de práticas litúrgicas”. Cremos em um Deus “além da compreensão”, cientes de nossa limitação, não podemos conhecer a plenitude de quem é Deus. Sabemos que tudo o que se pode dizer de Deus está longe de ser uma descrição completa e precisa. Desta forma é importante destacar que a FUICM é essencialmente pluralista com comunidades em um constante diálogo e enriquecimento dos seus processos. 

citação de Spong

Onde estamos nessa jornada?

Convido você a pensar na jornada de fé mais como uma espiral. Sempre girando, sempre crescendo nas duas direções. E as pessoas se vêem entrando na jornada em muitos pontos diferentes dessa espiral. Uso a metáfora da imagem em espiral tentando dissolver a forma linear de pensamento patronal da colonização linear que a teologia geralmente leva. Você está perfeitamente onde deveria estar em sua autêntica jornada. 

Referências:

  • Declaração de Fé das Igrejas da Comunidade Metropolitana Comentada.
  • Dwelling Together in Unity: MCC’s Approach to Ecumenical and Inter-Religious, 2011.
  • I Simposio Internacional de Teología Intercultural e Interreligiosa de la Liberación.
  • QUERUGA, Andrés Torres  – O diálogo das religiões.
  • MUSSKOPF, André – Via(da)gens Teológicas.  
  • VIGIL, José Maria – Teologia do pluralismo religioso – para uma leitura pluralista do cristianismo.
  • TEIXEIRA, Faustino. Cristianismo e diálogo inter-religioso. São Paulo: Fonte, 2014.
  • GEFFRÉ, Claude – De Babel a Pentecostes, ensaios de teologia inter-religiosa.
  • HAIGHT, Roger – Jesus símbolo de Deus.
  • PAINE, Scott Randall  – Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, no. 1 – Dossiê Identidades Religiosas e História.
  • GOSS, Robert E.  – Queering Christ
  • PUI-LAN, Kwok  – Globalização, gênero e construção da paz (2015).

 

Cristiano ValerioSOBRE ESTE AUTOR DA ICM: Reverendo Cristiano Valério – Coordenador de Desenvolvimento de Igrejas da Comunidade Metropolitana no Brasil